Portugal pode não ser favorito na pool D do grupo I Europa/África da Billie Jean King Cup by Gainbridge que começa a ser discutido, esta terça-feira, em Vilnius, na Lituânia. No entanto, a coesão existente no seio da Seleção Nacional, que vai começar por defrontar a Letónia na SEB Arena, onde terá de medir forças ainda com Croácia e Áustria na fase de grupos, pode marcar a diferença. É essa crença de Francisca Jorge, Matilde Jorge, Angelina Voloshchuk e Inês Murta, as eleitas da selecionadora Neuza Silva para esta semana na mais importante competição feminina por equipas.
“Estamos preparadas para o que vier. Acredito que o objetivo seja a manutenção, mas somos uma equipa muito forte, muito unida e, por isso, vamos lutar por mais do que a manutenção. Antes da subida ainda há os ‘play-offs’, mas acho que somos capazes de lá chegar, temos de acreditar em nós. Podemos ser a equipa menos cotada do nosso grupo, no entanto, isso pode não querer dizer nada”, afiança Francisca Jorge, a número um portuguesa, 253.ª mundial, que, apesar dos 24 anos, leva 20 eliminatórias na competição.

Por isso, Kika é uma das forças motrizes da equipa. “Já nos batemos com jogadoras de gabarito maior do que o nosso, mas estive perto de ganhar à Ostapenko [letã que foi campeã de Roland Garros em 2017], o ano passado. Vibro a representar a Seleção, por isso sabe sempre tão bem, porque respeitamos o trabalho umas das outras e só queremos o melhor para a equipa. Temos um ambiente positivo dentro e fora do campo. Quer ganhe ou perca estamos umas para as outras”, reforçou a jogadora que treina no Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis, sem receio de quem vai encontrar na capital lituana.
“São todas fortes, nós também porque temos as nossas armas e, de certa forma, não acho que seja mau jogar já com uma Ostapenko, que chega menos rodada. São todos os encontros para ganhar. A ‘Billie Jean’ joga-se com o coração e vai ganhar quem quiser mais e lutar por isso”, assevera Francisca Jorge.

Há um ano, no Jamor, foi ao lado da irmã Matilde, quatro anos mais nova, que a vimaranense ganhou o par e o respetivo ponto que conferiu a manutenção de Portugal nesta divisão. “Motivada” e “preparada”, Matilde relembra esse como um dos momentos marcantes das oito eliminatórias disputadas.
“Claramente ficou-me na memória o par contra a Bulgária, pois ganhámos o par decisivo e em super tie-break. Para já, é dos momentos emocionantes, foi a última eliminatória, se ganhássemos ficaríamos no grupo I, foi intenso. Mas, mesmo não jogando, como foi o caso em que a Inês e a Kika ganharam os singulares que nos deram a subida ao grupo I, senti essas vitórias como minhas. Lembro-me de saltarmos para dentro do campo para abraçá-las”, recordou a 277.ª mundial, confiante para mais sucessos na Lituânia.
“Estamos no grupo I e não há equipas fáceis, mas a capitã e o Miguel [Sousa, treinador] vão estudar a melhor estratégia para as odds darem vantagem a Portugal. Elas são fortes, nós também, temos as nossas hipóteses”, afiança a tenista do Clube de Ténis de Guimarães, salientando que “há sempre bom ambiente, boa disposição” que se traduz em “união” do grupo. “Nos bons ou nos maus momentos, estamos sempre a puxar umas pelas outras. Quem está a jogar, apesar de sozinha em court, tem sempre o apoio de uma equipa por trás”, garante Matilde.

Angelina Voloshchuk é a benjamim da Seleção. A número três portuguesa tem 17 anos – só no final do mês entra na maioridade – e fez a estreia em 2024, no Jamor, com direito a ser chamada à liça e até a uma cantoria em court, depois de assegurada a manutenção. Apesar de mais tímida, a tenista do AHEAD CT sente-se perfeitamente imbuída do espírito da Seleção.
“Vai ser uma experiência bastante boa, gosto muito desta semana. O ano passado foi marcante, por ter tido oportunidade de ter jogado quase todos os singulares e foi uma experiência fantástica. Vamos ver como corre este ano… Independentemente de jogar ou não, vou estar sempre a apoiar a equipa e a dar o melhor para tentar ganhar”, garante a 737.ª do ranking mundial.
“É muito bom sentir este espírito de equipa, ajuda muito a motivar-nos durante os encontros, puxa muito por quem está a jogar. Acho que é a coisa mais importante do encontro, seja para quem está a jogar, como para quem está de fora a ajudar”, descreve Angelina.

Esta eliminatória na Lituânia também assinala o regresso de Inês Murta que regressou à competição em janeiro, após 13 meses de afastamento para recuperar de cirurgia ao ombro. Com 14 representações na anteriormente designada Fed Cup no currículo, é com “entusiasmo” que a algarvia, de 27 anos, encara esta “semana de aprendizagem” em Vilnius.
Sobretudo após este período, um de vários, de provação por lesões. “Senti que não só comecei do zero no ranking, após 13 meses sem experiência competitiva, mas que mentalmente também comecei do zero. Agora, estou a aproveitar todos os momentos. Era o que queria, voltar a jogar, voltar a jogar sem dores, só isso já foi uma vitória, os resultados nos torneios vieram por acrescento”, referiu Murta que, neste regresso, passou qualifyings e chegou três vezes aos quartos de final em singulares e a uma final na variante de pares.
Para a 1182.ª mundial, o “privilégio de poder jogar” tem sido o fio condutor da carreira desde janeiro. “Sou uma Inês diferente, estou mais madura, penso as coisas de maneira diferente, tinha outras opções para parar de jogar, até há outras coisas que gostaria de fazer, mas sinto que ainda não encerrei este capítulo. Sinto que tenho mais coisas para dar”, rematou Murta.