Miguel Sousa (à dta), Ines Murta, Matilde Jorge, Neuza Silva, Francisca Jorge, Angelina Voloshchuk e Rodrigo Palma
Novembro 6, 2025

Uma década de Neuza Silva à frente da Seleção feminina que não pára de “olhar para cima”

A Seleção Nacional feminina, que vai discutir o histórico play-off de acesso aos Qualifiers de 2026 da Billie Jean King Cup by Gainbridge, já está a caminho da Austrália, onde vai jogar o grupo E com a congénere local e a do Brasil, entre 14 e 16 de novembro, no Domain Tennis Centre de Hobart.

Antes de encetar as 30 horas de viagem para a ilha da Tasmânia, onde espera superar a história escrita há 34 anos por Sofia Prazeres, Tânia Couto e Joana Pedroso, que chegaram à fase final em 1991, na então designada Taça Federação, a capitã Neuza Silva deu voz à confiança do grupo que, além do treinador Miguel Sousa e do fisioterapeuta Rodrigo Palma, tem por protagonista o mesmo quarteto que, em abril, deu este passo gigante em Vilnius, na Lituânia. Ou seja, Francisca Jorge (209.ª do ranking mundial de singulares/102.ª de pares), Matilde Jorge (255.ª/101.ª), Angelina Voloshchuk (507.ª/644.ª) e Inês Murta (822.ª/831.ª).

E nem “a chuva e o frio” esperados em Hobart, tão pouco o desgaste da viagem – a chegada está prevista para sexta-feira às 14.00 horas australianas, mais 11 do que em Portugal Continental – e mesmo da já longa temporada refreiam as aspirações de quem, sentada no banco há uma década, carrega os sonhos de quem representou Portugal em 23 eliminatórias de raqueta na mão.

Neuza Silva

“Em 2015, o Vasco Costa lançou-me o desafio para ser selecionadora nacional feminina, aceitei o convite faz agora, em novembro, 10 anos. Sempre fui uma pessoa muito ambiciosa, sempre olhei para cima, sempre pensei em voos mais altos e esta equipa foi se construindo ao longo dos anos. Há três anos estávamos na terceira divisão. Até 2022, não tinha havido muita estabilidade nas divisões, porque era uma equipa muito jovem, em reconstrução. Havia jogadoras novas a entrar, estabilidade tinha de se consolidar. Estas jogadoras foram ganhando experiência e, desde 2022, realmente temos uma estrutura mais sólida, com qualidade. Temos vindo a subir gradualmente”, analisou Neuza Silva, no último treino da equipa, no Jamor. “A qualidade tem estado presente, faltava amadurecê-la. Esta eliminatória é fruto do que temos construído para trás”, reforçou a selecionadora.

Sem esconder que esta eliminatória na Austrália “é especial, histórica”, a técnica não esconde qual o segredo para o sucesso destes quatro jovens rostos que tinha pela frente. “É mérito de todos pelo trabalho que se tem desenvolvido, mas tudo passa pelo espírito de equipa, pela vontade e gosto que estas jogadores têm por estarem juntas, competindo por Portugal”. Por isso, é com orgulho que recorda a superação em Vilnius, onde Portugal, mesmo com Francisca Jorge a lesionar-se nessa semana, se classificou na segunda posição no grupo D, com vitórias sobre a Áustria (2-1) e Letónia (3-0). No play-off de promoção, as comandadas de Neuza Silva ganharam à Eslovénia (2-0).

“As quatro contribuíram para o êxito. Mesmo frente à Croácia, com a qual perdemos no terceiro set, sentimos a equipa forte e mesmo as demais diziam que Portugal está muito forte, pode lutar, pode sonhar. Temos um par [Francisca Jorge e Matilde Jorge] que já é visto como uma grande equipa e nem sequer foi a jogo. A Matilde jogou com a Angelina contra a Áustria no decisivo. A nossa equipa está sólida, está forte e elas estão bem mental e fisicamente para a altura do ano”, reforçou a capitã portuguesa.

Francisca Jorge (A esq), Inês Murta, Matilde Jorge e Angelina Voloshchuk

A lição sobre as adversárias está estudada, apesar de algumas “surpresas”. Sem dúvidas, o favoritismo atribuído à equipa da casa – Nicole Pratt chamou Maya Joint (32.ª singulares/54.ª pares), Kimberly Birrell (94.ª), Talia Gibson (137.ª), Storm Hunter (33.ª de pares) e Ellen Perez (23.ª de duplas). “A Austrália talvez seja a que está melhor posicionada, porque as jogadoras já lá estão e não têm de passar pela viagem e têm o fator casa que é sempre importante. Nós estamos tranquilas e motivadas para ir. O sonho não acaba aqui. Ainda ontem em conversa de grupo, disse-lhes que estamos a meio caminho. Vamos trabalhar e lutar por mais, isto não é o limite.”

“São equipas desafiantes. O Brasil não tem a Bia Haddad Maia, mas tem outras jogadoras com muita experiência e outras novas que estão a entrar na equipa, estão motivadas e querem mostrar o trabalho e a qualidade. Vamos ter desafios grandes pela frente”, admitiu sem medo sequer de abrir a eliminatória diante da Austrália, no dia 14. “Acho que até é melhor assim. Começamos com a equipa da casa, as jogadoras ficam logo habituadas ao ambiente”.

Ciente de que a cada ano passado nesta última década “maior é o gosto pela competição por equipas”, Neuza Silva, reconhece o próprio aprumo profissional com o passar do tempo. “É importante a maior tranquilidade que passo às tenistas, estar dentro do campo com elas também lhes dá serenidade. Senti o mesmo na pele como jogadora, penso que ganham força com isso. Já me conhecem bastante bem, sabem que sou muito profissional, metódica e elas gostam. Tenho mais tranquilidade na abordagem a estes jogos. É bom”, vincou a selecionadora nacional rogando pela atenção dos portugueses para uma “equipa com muito valor, que joga com o coração e com vontade, e focada em objetivos altos”.